Mãe, bebé e sogra
Boa Tarde Doutora
Eu e a minha esposa tivemos uma bebé em Janeiro.
Desde o primeiro dia, a minha esposa revelou grandes fragilidades emocionais (insegurança e choro frequente) acompanhado de alguma irritabilidade e intolerância. Tudo sintomas, creio eu, "normais" para as circunstâncias.
Estes sinais foram-se intensificando e pequenas situações de discórdia rapidamente começaram a tomar proporções gigantescas na cabeça dela.
O "copo transbordou" quando a minha esposa começou a ficar incomodada com a forma como a minha mãe se comportava com a nossa bebé. No meu entender, a minha mãe comportava-se como qualquer outra avó que ama a sua neta. No entanto, para a minha esposa, a minha mãe manifestava um comportamento obsessivo ao ponto de, perante comentários de "minha menina" ou outras expressões carinhosas, ficar num grande estado de ansiedade e com vontade de fugir dali para fora.
A minha esposa pediu-me para falar com a minha mãe, para que esta se "comportasse normalmente" na presença da neta e que medisse as palavras antes de as proferir. Naturalmente eu tive imensa dificuldade em arranjar as palavras para abordar este assunto com a minha mãe de modo a que ela entendesse a mensagem sem a magoar.
Adiei durante três meses a conversa com a minha mãe na esperança de a situação se resolvesse por si só (ou na cabeça da minha esposa ou no comportamento da minha mãe). Não só não se resolveu como a minha esposa actualmente me acusa de não me preocupar com ela e preferir que seja ela a sofrer em vez da minha mãe.
A nossa relação está muito fragilizada, tendo inclusive afectado os sentimentos dela por mim.
Actualmente, qualquer situação menos feliz ou de falha da minha parte assume contornos catastróficos.
Não sei o que fazer e temo que a relação termine por falta de clarividência da parte dela motivada por este estado emocional.
Será que ela precisa de ajuda? Será que precisamos os dois? Que lhe parece doutora?
Obrigado
Caro pai,
A chegada de um bebé em casa muda tudo. E não só trabalho extra e mudanças na rotina. O novo elemento transforma também as relações familiares. Das avós, passando pela relação do casal, todos são afetados pela criança. Se adaptar aos novos papéis e solucionar os conflitos que nascem dos diferentes pontos de vista e necessidades de cada integrante da família também faz parte da aventura da maternidade.
Entre trocar fraldas e uma mamada, o trabalho e as compras do supermercado, a falta de sono e as contas que aumentam, as roupas que não cabem mais e as solicitações constantes, ser mãe, filha, nora, esposa...é uma fase difícil de gerir com tranquilidade.
Conciliar as opiniões e vontades de todos com as necessidades do bebé não é uma tarefa fácil, que precisa ser executada diariamente com alguma diplomacia e muita sinceridade.
E ainda há avó que sempre sabe o que fazer. Ou pelo menos diz que sabe. Em casos extremos, a avó chega a mudar para casa do casal para ajudar, mas pode acabar criando problemas por não respeitar as decisões dos pais. E também os pais não sabem dialogar e a avó muitas vezes não percebe.
É fato que os mais velhos têm mais experiência e, consequentemente, maior tranquilidade para lidar com um recém-nascido. E sim, ter ajuda extra (e de confiança) no delicado período dos primeiros meses pode ser divino. Mas é preciso estabelecer limites e mostrar que os papéis mudaram e que a mãe é agora uma avó.
Como cada família é única e tem sua própria história, não existe um só remédio que solucione todos os casos. Certamente, o melhor é falar claramente com ela, explicando o que a sua mulher quer e como se sente. É preciso que a sua mulher não se sinta mal de abrir o jogo e dialogar com ela sobre como se sente.
Com delicadeza, mas firmemente, a sua mulher precisa esclarecer que é grata pela ajuda, mas o filho é dela e é dela a responsabilidade de tomar decisões.
Deixar claro que opiniões são bem-vindas, mas a escolha é dela e não estão em negociação. A avó pode até ficar ofendida e fazer drama, mas é mais importante o bom entendimento entre o casal e sua mulher nesse momento de maior fragilidade tem que ser respeitada e ajudada para evitar que desenvolva uma depressão pós parto.
Se entretanto a situação se mantiver tensa e conflituosa, sugiro que ela procure ajuda de uma psicóloga para a orientar e evitar mais sofrimento.
Tudo de bom e felicidades para seu bebé!