Dor da separação
Boa tarde doutora,
Venho lhe expor o meu caso que me faz bastante sofrer:
Tenho 34 anos e estive durante dez anos com um companheiro de quem tenho dois filhos, separei-me há pouco tempo mas desde aí (se calhar até antes) só penso na morte dele, mas pior também estou sempre a pensar na morte dos meus pais (sao pessoas saudáveis) mas no entanto estou regularmente a pensar nisso e a pensar que dificilmente conseguirei ultrapassar esse futuro... o que posso fazer para conseguir superar os meus medos?
Outra coisa... o meu ex companheiro não aceitou muito bem o nascimento do nosso segundo filho que foi planeado!... Apesar de lhe pedir explicações ele não mas da nem reconhece que inconscientemente talvez o tenha rejeitado...separamo-nos 4 meses depois do nascimento do nosso segundo filho...quando a nossa primeira filha nasceu ele foi um pai muito presente e para o segundo foi ignorando o filho, evitando o contacto com ele... não percebo!
Agradeço lhe desde já ter lido o meu mail e uma resposta que me possa ajudar...
Obrigada CD
Cara CD,
Separar de quem se ama ou de quem partilhamos parte de nossa vida e tivemos filhos não é uma tarefa fácil. É uma parte da vida que encerra naquele momento e portanto é visto por nós psicólogos como um momento de luto, onde as dores da perda serão elaboradas até que se volte à normalidade. As emoções ficam mais expostas e a razão parece não existir.
Ficamos totalmente sem defesas e sem proteção. Perde-se a vontade de fazer qualquer coisa que seja por si mesmo, falta forças, desvalorizada, ou ainda desacreditada de ser merecedora de nada que a faça sentir-se bem, como se houvesse uma culpa escondida pelo acontecimento ou uma enorme amargura pela injustiça, que equivocadamente sente ter sido vítima.
Com toda certeza é um momento de muita dor, são lembranças, projetos, sentimentos, realizações que terão que ficar para trás, que não farão mais parte da sua vida atual. É exatamente isso que dá a sensação de vazio, os planos desfeitos, os sonhos que jamais serão realizados, ao menos com quem se acreditou que seriam. Tudo isso acabou! Acabou o “nós” e é preciso de novo voltar a dizer “eu”.
Mas podemos, e devemos, fazer algo para que consigamos suportar esse momento tão difícil, que para a grande maioria dos seres humanos, parece não ter fim. É preciso fazer o luto da relação.
Assim estará pronta para recomeçar. É necessário também um comprometimento seu em querer superar e seguir o seu caminho, levando consigo a experiência enriquecedora, que a faz ser uma pessoa muito melhor do que antes. Acredite que viver é constantemente recomeçar. Só que agora será de uma forma diferente. Se transformará positivamente para novas relações, para ser mais feliz e conquistar tudo que desejar. Pode ter certeza! Se quiser, conseguirá!
O pensar na morte de pessoas que quer bem pode estar relacionado com o medo da solidão ou medo do sofrimento da perda. Uma das principais angústias do ser humano está relacionada com a morte. Pensar, na possibilidade deles morrerem, reflete a sua preocupação e uma maneira de elaborar a sua angústia.
O porquê do seu companheiro rejeitar o filho poderá estar relacionado com a zanga que tem de si e da separação e inconscientemente escolhe afastar-se como forma de proteção para o seu sofrimento ou como forma de “castigá-la” pela separação. Outra hipótese poderia ser o fato dele não o reconhecer como filho seu. Mas essas são hipóteses vagas, pois tenho muitos poucos dados para poder dar uma resposta.
Penso que com o tempo vai conseguir reconhecer o filho.
Separação sempre traz sofrimento mas com paciência e calma as coisas aos poucos se recompõem.
Pense nos seus filhos que precisam muito de si e viva a mãe e a mulher que é e abra-se para uma nova forma de ver, pensar, sentir e agir! Se puder, faça terapia! Isso ajudará muito, nesta e em outras questões!
Um grande abraço