Quebrar correntes
Paula Rego
DOUTORA, ME CHAMO LETÍCIA E TENHO 27 ANOS, E É COM LÁGRIMAS NOS OLHOS QUE LHE ESCREVO...
Sou filha de uma alcoólatra em recuperação e um viciado em jogos, cresci em um lar onde as únicas coisas que eu pude observar foram brigas que iam desde insultos a violências (físicas e psicológicas), acabei por desenvolver hábitos que muito me magoam como, por exemplo:
1. Comer doces em excesso; estou acima do peso.
2. Pensamentos de não ser merecedora das coisas que eu já consegui (me formei no curso superior e trabalho na minha área;
3. De uns tempos para cá ando a achar que eu sou muito inferior;
4. Estou extremamente insegura e acho que eu não vou conseguir desenvolver o que este meu novo trabalho exige.
Sou muito boa em ajudar os outros mais infelizmente eu não consigo dar um passo a meu favor, sou capaz de gastar todo o meu salário com os outros, por exemplo: amigos, mais não consigo pagar uma academia ou ainda um tratamento psicológico, mesmo sabendo que seria tão benéficos para mim. Nem sei como estou a lhe escrever, pois falar dessas coisas me machuca muito, são tantos sentimentos que acho que ninguém vai conseguir compreender, Não me sinto nem um pouco a vontade para falar isso com meus amigos, para dizer a verdade MORRO DE VERGONHA em falar dessas coisas, pois minha mãe me fez passar por inúmeras situações constrangedoras dormindo pela rua suja como uma mendiga.
O convívio com meu pai também foi muito doloroso ele era muito ignorante e eu nunca tive uma relação de afecto dentro de casa, chego agora finalmente no ponto principal que tem me incomodado e impedido de viver: nunca tive muitos relacionamentos, para dizer a verdade quando se tocava no assunto vir á minha casa, tornar a relação mais séria, era certo eu arranjar um meio de terminar, mesmo me apegando muito rápido aquela pessoa eu terminava, buscava me envolver com pessoas que não morassem próximo a mim para evitar qualquer situação, só que não poderei fugir para sempre e eu quero construir uma família, estou a me relacionar com uma pessoa, só que passam pensamentos de que ela não irá ficar comigo quando souber de tudo e também acho que não posso oferecer nada de bom a essa pessoa me sinto muito inferior para dizer a verdade fico a procurar qualidades que o fez se interessar por mim... E juro não as vejo não sei o que fazer e por isso estou a lhe escrever, convicta de que a Senhora possa me mostrar o caminho que tenho a seguir. Desde já agradeço e peço muita força para que eu consiga energia de buscar coisas que sejam boas para mim!
Graça e paz!
Cara Letícia, O que precisa é de “quebrar correntes” ou seja já está a iniciar um processo de separação: separação da família, que não significa separar-se sentimentalmente mas física e psicologicamente e tornar-se um indivíduo independente e confiante em si próprio. O que acontece consigo é que não aceitou a família e passa por sentimentos de insatisfação, inferioridade e culpas. O que é preciso é aceitar a sua família, sem “vergonhas” e se libertar dessa influência para viver a sua vida plenamente, já que tem educação, é uma pessoa inteligente e está em plena juventude com todas as oportunidades para evoluir positivamente. Procure confiar em si própria e seguir em frente em seus ideais. Acredite em si e na sua capacidade de crescer. Se entretanto não conseguir sozinha, procure a ajuda de uma terapia para através do auto-conhecimento conseguir superar as dificuldades e bloqueios. Um abraço Mariagrazia