Incapacidade de amar
Bom dia Doutora, meu nome é P.
Tive uma infância bem complicada, minha mãe me abandou quando eu era bem jovem, e cresci em uma estrutura familiar frágil. Meu pai arrumou uma nova companheira, onde sofri muita rejeição. Por fim, tive um em união estável, que veio a ter fim por causa de traição por parte dela.
Hoje, me encontrou em um namoro, mas já se passaram alguns meses, e não sinto que surgiu sentimento algum, na verdade não sei descrever o que sinto pela pessoa.
Essa pessoa demonstra a todo tempo que me ama, deixa seu sentimento externa pra fora do peito, e eu sinto que esse sentimento que ela tanto demonstra é verdadeiro, porém, eu já não sei dizer o mesmo quanto a mim. Pensei em deixar o tempo passar, pra que o amor surja naturalmente, mas tenho medo que isso não ocorra, e não quero magoar a pessoa que diz a todo instante que sou o amor da vida dela.
Temos um namoro bem harmonioso, pois gosto da presença dela, de algumas coisas que fazemos juntos, mas se nos vemos todos os dias durante uma semana, por exemplo, me sinto sufocado. Não sei explicar, talvez nem tenha explicação, mas me sinto numa necessidade de ficar sozinho às vezes, e isso acaba me bloqueando pra essa pessoa.
Ela conhece toda minha história, e é uma pessoa bem compreensível, tenta me ajudar, demonstra seu carinho, amor e afeto que sente por mim, mas eu me sinto bloqueado, e isso está me aterrorizando.
Eu quero que esse namoro dê certo, que surja um amor infinito em mim novamente, mas sinto dificuldade, e às vezes sinto que devido a essa situação, acabo tornando a vida da minha namorada infeliz. Apesar do amor que ela sente por mim, queria poder demostrar o mesmo por ela, mas me sinto incapacitado disso.
Gostaria que a senhora me ajudasse, ou pelos menos que me orientasse ao que devo fazer?
Desde já agradeço a atenção.
Caro P.,
Por ter vivido em um ambiente permeado por rejeições familiares e desavenças psicológicas, inconscientemente rejeita sentir-se preso a um amor, um pouco por já estar habituado a viver sozinho e precisar do seu espaço e também por medo de sofrer novas desilusões. Está a viver uma insegurança amorosa que a sua própria existência representa.
Esteja aberto e investa na relação de uma forma autêntica e se sentir que é com ela que deseja construir uma família, sempre pode preservar o seu espaço e ao mesmo tempo criar um novo padrão de viver. Tenha calma, não se anule, mas procure sempre manter a sua identidade e individualidade, pode ser que o amor desabroche. Nem sempre o amor chega via paixão, às vezes cresce aos poucos.
O essencial é amar sem deixar de amar a si próprio.
“Não é ansiando por coisas prontas, completas e concluídas que o amor encontra seu significado, mas no estímulo a participar da génese dessas coisas”( Zygmunt Bauman 2004)