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Consultório de Psicologia

Espaço de transformação com a finalidade de orientar, ajudar, esclarecer dúvidas e inquietações. Encontre equilíbrio, use sua criatividade e deixe fluir sua energia. Mariagrazia Marini Luwisch

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Trauma emocional

109.jpgBoa tarde doutora,

tenho 23 anos e penso estar com um bloqueio emocional.

Aos 18 anos tive uma relação de 2 anos com a única pessoa que eu já amei. Engravidei passado esses dois anos e ele veio a falecer de um acidente grande de automóvel há quase 2 anos.

Já tentei conhecer pessoas novas só que de início sinto me muito apaixonada e de um dia para o outro perco todos os sentimentos e sinto desinteresse. Já me aconteceu 3 vezes. Não sei o que se passa de errado comigo, mas não quero magoar mais pessoas … será que não irei conseguir amar de novo?

Cara Leitora,

O seu relacionamento do passado, com um desfecho trágico, poderá ter-lhe provocado um trauma psíquico importante. Mesmo com o passar do tempo, as sensações experimentadas ficaram retidas na sua mente e, diante de qualquer sinal que relacione com esse fato traumático, revive a angústia e o sofrimento, como se estivesse a acontecer novamente.

O perder os sentimentos e o interesse parece estar relacionado com o seu medo inconsciente de vir a sofrer uma nova perda ou um luto.

A psicoterapia pode ser uma ótima ferramenta para superar o trauma. Procure ajuda de um psicólogo e lembre-se que é importante ter pensamento positivo e saber que é possível superar o sofrimento e, até mesmo, transformá-lo em algo edificante.

Trauma de relacionamento tóxico

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Faz pouco mais de um ano que terminei um relacionamento tóxico de 3 anos. Quando terminei foi libertador, conheci gente nova que quis se relacionar comigo, mas tinha muito pouco tempo de término então preferi ficar só.

Foi passando o tempo me interessei por outras pessoas, só que quando eu percebia que a pessoa queria algo sério eu perdia o interesse na hora e isso se repetiu várias vezes.

Eu não gosto mais do meu ex, só que sinto que estou traumatizada.

Cara leitora,

Precisa procurar ajuda para conseguir voltar a confiar em si e nas pessoas. A relação tóxica com o seu ex, felizmente, já terminou.

Agora é importante investir em si própria. Fazer terapia é fundamental, tanto para entender como aquela dinâmica tóxica instalou-se, bem como para poder perdoar-se por ter aguentado tanto tempo num relacionamento tóxico e, sobretudo, não se culpar pelo seu passado. 

Mãe tóxica

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Olá.

Ultimamente ando muito angustiada. Tive uma infância muito difícil na questão emocional. Minha mãe sempre me xingou muito. Sempre me chamou de burra, caso não fizesse algo certo. Sempre se vitimizou, sempre acha que esta certa em tudo. E sempre me obrigou a cuidar da minha irmã mais nova como se eu fosse a mãe dela. E nossa diferença de idade é apenas 6 anos. Me sentia sufocada quando criança, eu lembro de sempre chorar e dizer que queria morrer. Sempre lembro que eu não era feliz na minha casa, não me sentia bem ali. Me sentia maltratada, sobrecarregada. E infeliz. O tempo passou e eu também lembro que minha mãe só se importava comigo e demonstrava algum afeto quando eu ficava doente.

Enfim. É muita coisa mas hoje eu tenho um sentimento de desgosto por ela. De cansaço só em falar com ela. Não queria falar com ela. Não faço questão de vê-la. Acho ela super dramática em tudo. Não a tenho como um porto. Eu sempre me virei sozinha. E sinto que hoje não posso contar com ela. Me sinto culpada de ter esses sentimentos por ela. Mas é o que eu sinto. E grande parte disso, acho que foi por todas as coisas más que ela já fez comigo. Estou muito cansada.

Não consigo conviver com ela numa boa. Mentalmente começo a ficar sufocada porque não tenho coragem de falar dos meus sentimentos pra ela.

 

Cara Leitora,

Não sei se vale a pena falar com ela. Mãe é mãe e nem sempre é capaz de corresponder à necessidade de amor e atenção de uma filha.

É muito triste ter que aceitar que a mãe, que deveria amar acima de tudo possa ser o algoz da própria filha.

Os pais tóxicos, classificação cada vez mais usada na psicologia, agridem física e psicologicamente, causando sequelas que se arrastam por toda a vida. Nenhum pai ou mãe está livre de falhar, perder a paciência ou a compostura. Mas agir com perversidade ultrapassa os limites aceitáveis de qualquer relacionamento. E a humilhação vinda daqueles a quem se ama é muito mais dolorosa.

É como se houvesse uma confirmação para a pessoa de que ela não é boa o suficiente para receber afeto. A postura dos pais tóxicos deixa graves sequelas, normalmente levadas para a vida adulta. As consequências são agressividade, dificuldade de aprendizado, rebeldia, timidez e um enorme sentimento de culpa.

Mães e pais perversos existem. A constatação coloca na berlinda o chamado amor incondicional. Esse sentimento, é uma construção moldada de acordo com os desejos de cada um. Não é intuitivo, como defende a crença popular. É uma questão cultural, imposta pela sociedade.

O amor incondicional só existe se os pais desenvolveram ao longo da vida recursos para lidar com as adversidades e as mudanças. Porque um filho muda tudo na vida dos pais.

A filha de uma mãe tóxica cresce num estado de alerta, o que causa uma ansiedade que se torna crónica.

Para quem chegou à vida adulta traumatizado pela relação tóxica, a psicoterapia é um caminho. Para muitas das vítimas, o tratamento inclui passar a ter uma relação superficial com os pais.

Parece que para conviver com a sua mãe seja preciso manter uma distância saudável e procurar compreender e talvez admitir que há realmente pessoas desprovidas de afeto e sua mãe é uma dessas pessoas.

Se não conseguir lidar com esses sentimentos e traumas procure uma psicoterapia.

Medo de bêbados

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Boa noite, meu nome é Joana, tenho 21 anos e tenho pavor de bêbados e de bebidas alcoólicas.

Não me lembro de ter passado por nenhuma situação traumática com pessoas bêbadas e por isso fico intrigada.

Não suporto cheiro de bebida, tenho dor de cabeça na hora. Minha barriga chega a doer de nervosismo quando alguma pessoa próxima de mim bebe (namorado, irmãos).

Quando começamos a namorar, eu fiz meu namorado parar de beber por mais ou menos um ano. Depois disso ele voltou a beber e eu tenho medo de ficar perto dele todas as vezes que ele bebe. Não consigo ter um momento sequer de tranquilidade quando sei que ele está bebendo e isso me esgota mentalmente e psicologicamente. Eu sei que isso que eu sinto não é certo, mas ele não entende o que eu sinto e não está disposto a parar de beber.

Eu não sei o que fazer.

 

Cara Joana,

 

O seu medo de bebidas alcoólicas é um medo irracional. Talvez tenha ouvido falar muito mal do álcool e de pessoas alcoolizadas, o que deixou na sua mente um pavor inconsciente. Para um tratamento eficiente é preciso fazer psicoterapia.

 

Entretanto pode aliviar o seu medo ao entrar em contato com bebidas alcoólicas aos poucos para conseguir uma dessensibilização. Não é beber mas estar em contato, cheirar, ver, tocar etc. Trata-se de desaprender as respostas negativas diante de uma situação de medo e stress e de transformar a experiência. Assim a memória cumpre o papel de recordar o novo aprendizado quando for necessário.

 

Fique bem

 

 

Trauma de infância

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Eu tenho 22 anos, estudante, solteira, gostaria de fazer um relato de uma situação imperdoável que aconteceu na minha infância, que até hoje me prejudica emocionalmente. Você pode ajudar-me?

 

Na época que eu tinha 12 anos, sempre ia na casa da minha prima para jogar vídeo game (fica bem na frente da minha casa, em certo momento, ela disse que precisava ir no supermercado e me deixou sozinha jogando lá, depois o marido dela chegou (eu me dava bem com ele naquela época), e começou a me acariciar e por fim, conseguiu o que ele queria. Voltei para casa imediatamente, apesar de estar ameaçada, chorei horrores de dor no banheiro, tomei banho para me acalmar e me limpar, sendo que minha mãe estava em um quintal lavando roupas e não me viu entrando, acabei não contando, após 4 anos, comecei a pensar que não adianta sentir um negócio ruim dentro de mim e acabei revelando para os meus pais. Eles ficaram em choques, tanto que infelizmente não tínhamos opções para provar o quanto isso foi injusto e cruel comigo. Até hoje, eu vejo ele em frente da minha casa e só sinto nojo e não tem nada para fazer para prova-lo. Porque eu só sinto nojo? Hoje sou uma pessoa muito fria. Não consigo demonstrar os meus sentimentos totalmente. Muita gente me julga até hoje o porque o meu comportamento é assim, frio/seco. Às vezes consigo demonstrar o quanto importo ou amo a pessoa, mas com o meu jeito diferente. Estou conhecendo alguém e estou com medo dele não gostar desse meu jeito... um pouco distante.

Hoje percebi que o que tem dentro de mim é o medo. O medo de passar por isso novamente, de ser tocada com força por amigo/namorado, qualquer pessoa. Gostaria de saber a sua opinião, o que faço para se livrar desse medo, desse trauma?

 

Se puder ajudar-me, aguardo a sua resposta. Desde já agradeço.

 

Cara jovem,

uma de abuso sexual pode manter as feridas até a vida adulta dependendo da sua intensidade ou de quanto a pessoa conseguiu elaborar a situação que passou. As sequelas de um trauma fazem com que o adulto acredite estar sempre desamparado, abandonado e solitário, tornando-se uma pessoa insegura, tímida e com medo de se aventurar na vida.

 

Quando a elaboração não ocorre é aconselhável procurar ajuda de um psicoterapeuta.

A psicoterapia fazer com que o adulto perceba que não é mais aquela criança inocente, submissa, indefesa e despreparada que acreditava ser. Junto com o terapeuta, o indivíduo traumatizado vai encontrar novos caminhos para redescobrir sua força, sua energia e sua vontade de viver. Para isso, é necessário que o trauma seja revivido não só com lembranças, mas com emoções e afetos correspondentes. É preciso retornar àquele lugar doloroso, mas com segurança não elaborada anteriormente. A terapia vai fazer com que o indivíduo organize aquilo que ficou fragmentado no decorrer da vida. As lacunas do viver serão preenchidas por pensamentos de confiança, tranquilidade, força e ousadia para se recolocar no mundo de forma ativa e positiva. O processo não é fácil, mas é possível.

 

Procure ajuda para elaborar o seu trauma e confie em si que vai conseguir ultrapassar e amar plenamente sem a sombra do passado.

Um abraço

Trauma de infância

 

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Olá, boa noite. 

Gostaria muito de conseguir uma informação sobre meu caso.

Quando eu tinha acabado de completar 12 anos fui passar minhas férias em outra cidade na casa dos meus tios como de costume. Um dos meus primos tem a mesma idade que a minha, sempre fomos grudados melhores amigos. Quando nessa idade eu fui pra lá ele já tinha uma vida sexual ativa, acho isso negligência dos pais. E eu nem sabia direito o que era, ainda pensava que a mulher ficava grávida se os dois ficassem juntos sem roupa e só. Nessas férias aquela amizade se tornou algo a mais pra mim, comecei a sentir amor de criança por ele.

 

Nisso ele ficou trabalhando minha mente que queria ensinar-me o que aprendeu e eu como uma criança que sempre só obedeceu, obedeci mais uma vez... Ai ele colocou seu pénis dentro de mim e eu sem entender nada, ele ficava mexendo e eu senti arder. Pra mim aquilo que ele estava me ensinando não era legal nem divertido.... Até que um dia ele fez isso de novo e pra minha surpresa na hora que ele penetrou em mim, eu senti uma coisa muito forte e boa, exactamente naquele momento eu entendi, e me senti a maior pecadora do mundo. Tirei ele de perto e não me permiti sentir mais aquilo.

 

Hoje com 22 anos sou casada e pra minha tristeza não sinto absolutamente nada na penetração, queria sentir aquilo de novo porque agora eu posso.. Mas nunca mais... Sinto apenas na estimulação do clítoris mas lá dentro nada... E isso acaba comigo porque ninguém sabe, nem meu marido. Não dá pra falar que não sinto nada... Sempre faço os exames preventivos e sou o tipo classe A que a ginecologista disse, que não tem nada.. está tudo perfeito...

 

Não sei o que fazer, por favor me ajude. É possível um dia sentir prazer? Aguardo muito ansiosa! Um abraço

 

Cara Leitora,

 

Muito provavelmente ficou traumatizada com o que viveu aos 12 anos e a culpa inconsciente de ter sentido um prazer proibido impede-a de sentir atualmente o prazer “permitido”.

 

Para desculpabilizar-se do que lhe aconteceu no passado, o primeiro passo terapêutico é conscientizar-se que o que passou é parte do passado e não precisa carregar essa culpa para sempre e que afinal sentir prazer é normal.

 

Para começar pode começar a “treinar”  com a masturbação, para conhecer melhor o seu próprio corpo, descontrair e a partir daí chegar ao orgasmo.

É também fundamental que possa sentir-se livre de preconceitos.

 

É preciso ter calma e paciencia, a ansiedade trabalha contra. Caso não supere, procure ajuda especializada. Faça uma psicoterapia. A Psicoterapia é espaço privilegiado para o seu crescimento pessoal, desenvolvimento de habilidades e ampliação da consciência de si e do mundo. Trata-se, portanto, de uma importante ferramenta na promoção da sua saúde psicológica e sexual.

 

Um abraço

 

Abuso sexual

 

chagall27.jpg Drª, gostaria de sua ajuda, sofri abuso sexual na minha infância, e quando me tornei adolescente comecei uma vida sexual muito cedo. Sempre busquei refúgio no sexo sem prazer, e quando me quando me apegava, me apegava muito rapidamente.

 

Vivo uma vida de dupla personalidade, na frente das pessoas sou uma pessoa normal, mas quando estou sozinha tenho prazer em me sentir triste e chorar.

Será que tenho algum tipo de transtorno? Desde já agradeço
Amanda

 

Cara Amanda,

As vítimas de violência e abuso sexual sofrem consequências psicológicas tanto imediatas quanto crónicas.

 

As consequências da violência e do abuso sexual na esfera emocional são:

* Choque.

* Negação.

* Medo.

* Confusão.

* Ansiedade.

* Recolhimento.

* Culpa.

* Nervosismo.

* Falta de confiança nas pessoas

* Sintomas de transtorno do stress pós-traumático.

 

O seu comportamento na intimidade pode estar relacionado ao seu passado, quando viveu o prazer associado à tristeza e à dor. Para melhor tratar do seu problema e está indicada uma psicoterapia que vai ajudá-la e proporcionar-lhe um ambiente seguro onde poderá expressar a sua dor e iniciar daí um processo terapêutico de cura do seu trauma do passado.

 

Entretanto não desanime. Essas situações acontecem e o que é preciso é conseguir superar o trauma e recuperar a sua auto-estima.

 

Abuso sexual

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Bom meu nome é Ana e estou precisando de ajuda. Há mais ou menos 3 anos sofri abuso sexual. Há mais ou menos 4 meses e eu consegui contar para minha professora através de uma carta.

A carta foi mostrada para o meu pai, mas nada mudou porque ele não acreditou. Sou da igreja católica, então tivemos retiro e um dia antes eu tinha conversado com uma amiga da mãe e ficamos 3 dias lá e no 2 dia eu passei mal porque sabia que tinha que contar. Acontece que ela me pediu permissão e contou para minha mãe, desde então minha vida mudou.

Eu mudei e comecei a me cortar, tive várias tentativas de suicídio, fui para um grupo de apoio e eu estou extremamente cansada. Me trato com psicólogo e psiquiatra mas não está resolvendo. Me sinto fraca por não me defender e suja. Espero que responda e consiga me ajudar ...

 

Cara Ana,

Obviamente todo abuso é uma violência e tem a tendência de causar transtorno e consequências graves para a vítima, dependendo de como a pessoa o interpretou.

A violência sexual abrange um conjunto de atos sexuais dos quais a penetração é apenas um exemplo. Há outras formas de violência sexual: obrigar à prática de sexo oral ou de masturbação; carícias indesejadas nos órgãos sexuais; forçar à exposição, visualização ou participação em filmes de natureza erótica ou pornográfica ou forçar à prática de prostituição.

É possível sentir prazer durante uma interação sexual forçada por uma razão simples: o nosso organismo possui mecanismos biológicos que são ativados, de forma involuntária, perante o toque. O sistema reprodutor, o sistema hormonal e o sistema nervoso (cérebro) são os principais responsáveis por este processo do nosso organismo.

É importante não esquecer que, mesmo que se sinta este suposto"prazer", não significa que tenha gostado do que aconteceu, muito menos faz com que a vítima seja culpada pela violência sexual.

O mais importante é não se culpar pelo que aconteceu, mas aceitar como uma forma de acidente que aconteceu e que é preciso ultrapassar para continuar a viver sem traumas e para que não aumentarem os problemas.

No seu acompanhamento psicológico  e psiquiátrico, fale sobre tudo o que sente e também sobre esses novos comportamento, que são destrutivos e precisam acabar e ser substituídos por comportamentos saudáveis como  dedicar-se ao estudo, ao trabalho e ao crescimento pessoal.

Procure desdramatizar o acontecido, saiba que muitas mulheres sofrem abusos principalmente na infância e adolescência e o importante é viver a experiência como aprendizado para a vida.

Um abraço e Bom Ano!

 

 

 

Identidade sexual

 

 

 

Meu nome é T., tenho 25 anos, moro em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais e tenho passado por uma fase de muitas dúvidas e isolamento. Meu e-mail é um pouco grande, mas espero que possa lê-lo e ao menos me dar alguma sugestão do que devo fazer ou como começar a resolver meus problemas.

Vamos lá. Sempre fui uma criança alegre. Eu adorava dançar, desenhar, jogar videogame, ir para a fazenda dos avós nos domingos com a família, brincar na casa dos coleguinhas de escola, e entrar no meio ou espiar as brincadeiras da minha irmã com as amigas dela.

 

Na escola eu era o contrário, bem reservado, tímido, de pouca conversa, não gostava nem mesmo do recreio, já que nessa hora era 'obrigado' a interagir com outras crianças. Sempre fui um ótimo aluno, apesar de não gostar da escola. Eu me sentia na obrigação de deixar os meus pais orgulhosos de mim, então fazia de tudo para ser um bom filho.

 

Meus pais tem um casamento sólido. São católicos, carinhosos um com outro e estão sempre juntos. Nunca os vi brigar. Na minha família, nos amamos muito mas não somos do tipo de demonstrar esse afeto. Acho que só disse "eu te amo" para os meus pais umas duas ou três vezes, mas foi bem difícil.

 

Por volta dos 7 ou 8 anos, sofri abuso sexual. Um primo mais velho me forçou a fazer sexo oral nele. Nunca falei sobre isso com ninguém, tinha medo de não acreditarem em mim e apanhar por isso. E nunca foi uma coisa que me incomodou também, na verdade me senti culpado e com vergonha por ter de certa forma achado aquilo prazeroso. Isso foi só na época, depois passei muitos anos sem nem mesmo lembrar do ocorrido. Eu não fazia nem ideia de que aquilo tinha sido abuso.

 

Por volta dos 10 anos fui introduzido ao mundo do sexo. Sempre tinha um coleguinha que chamava para assistir um filme pornográfico escondido, ver alguma revista e coisas do tipo. Foi nessa idade que comecei a me sentir desconfortável na frente de outros meninos. Sempre rolavam brincadeiras de comparar o órgão sexual, passar a mão, coisas que acredito aconteçam com todo mundo. O problema é que aquilo me excitava e eu tinha medo que meus colegas percebessem.

 

Na adolescência eu comecei a ganhar peso e isso me fez querer ficar um pouco mais dentro de casa. Nessa época também parei de dançar por dizerem que isso era coisa de gay e até me afastei um pouco de meninos. Ficava o tempo todo na frente da TV. Eu tinha no máximo um ou dois amigos, o resto eram só meninas. Eu me sentia mais a vontade com elas.

 

Meu primeiro amor foi platônico. Gostei de uma menina dos 7 aos meus 14 anos. Brincava dizendo que ia me casar com ela, ficava nervoso ao lado dela, escrevia cartinhas (mas nunca as entregava), até que um belo dia resolvi confessar meu amor. Eu ainda não tinha nem mesmo dado meu primeiro beijo (tinha 14 anos). Simplesmente a chamei num canto e disse, na lata: "Eu te amo". Ela me olhou assustada, ficou sem graça, não sabia o que dizer. E as minhas palavras pareciam estar se repetindo na minha mente. Eu não conseguia acreditar que tinha dito aquilo, queria voltar no tempo e desfazer aquilo tudo. Ela disse: "depois a gente conversa". Nunca conversamos sobre isso, mas aquela ação de dizer que a amava parecia ter-me libertado. Foi como se o sentimento evaporasse no mesmo instante.

 

Eu tinha uma prima muito amiga, que contava tudo para mim, então decidi contar isso para ela. Nós rimos bastante da situação e ficamos mais próximos. Começamos a sair juntos e nos ver bastante, até que um dia fiz uma aposta valendo um beijo. Eu ganhei a aposta e assim dei o meu primeiro beijo. Foi tardio, eu já tinha 15 anos. Pra ela não era a minha primeira vez, eu já tinha contado várias histórias falsas antes para não pegar mal pro meu lado.

 

Começamos a ficar constantemente. Isso durou uns 5 meses, até que ela "me colocou na parede" e praticamente me pediu em namoro. Eu não a amava, nem estava apaixonado, mas curtia ficar com ela. Era um mundo novo para mim e eu estava divertindo-me muito, então aceitei. Namoramos escondidos por alguns meses até que resolvi contar para a minha mãe. Ela não aceitou, ninguém na minha casa achava sensato namorar uma prima. Meus pais pareciam se esquecer que eu tinha apenas 15 anos e já falavam em pecado, casamento e filhos deformados. Aquilo para mim era um absurdo. Bati o pé e continuei com ela. Foi um relacionamento difícil, minha mãe quase não falava comigo, minha namorada parecia não gostar de ninguém daqui de casa, era uma guerra. Terminamos por um tempo, depois voltamos de novo às escondidas. Fomos descobertos pela irmã dela que contou tudo para a minha mãe. Tive que passar por todas as brigas de novo, mas ficamos juntos.

 

Nosso namoro era inocente, posso dizer assim. Nunca chegamos a transar. Eu gostava de provocá-la bastante e quando chegava no auge eu maneirava para evitar dar o próximo passo. Não me sentia bem com o meu corpo, tinha vergonha até de ficar sem camisa perto dela. Nessa época eu estava bem apaixonado, mas dentro de casa o clima estava muito pesado. Ela sempre brigava comigo por ciúmes, dizia que eu não dava atenção a ela e coisas do tipo. Decidi colocar um fim na relação, não estava aguentando mais.

 

Demorei cerca de um ano para esquecê-la e sofri muito com isso, mas não voltei atrás em minha decisão. Na escola estava em ano de vestibular. Eu não fazia a menor ideia de que profissão escolher. Meus pais nunca opinaram em nada, sempre diziam que me apoiariam em qualquer decisão. Fui pela escolha óbvia: arquitetura. Eu gostava de matemática, era bom com desenhos, a profissão dava dinheiro, tudo daria certo - eu pensava. Meus pais torceram um pouco o nariz porque a faculdade ficava em um cidade grande e longe daqui, mas apoiaram. No fundo eu queria que eles não tivessem o feito, queria mesmo era a opinião deles, não queria ir pra longe, não tinha certeza se era esse curso mesmo que queria. Fiz a inscrição, mas nem me importei em estudar. A prova estava difícil e não passei. Faltaram 2 pontos. Eu sabia que se estudasse eu passaria, então me senti aliviado de não ter estudado.

 

Assim foram seguindo-se os anos. Eu trabalhava no estabelecimento dos meus pais, engordei mais uns 15 kg nessa fase. A maioria dos meus colegas já estavam estudando e eu continuei atirando para todos os lados nas universidades federais. Tentei arquitetura mais uma vez, administração, fiz o ENEM e por fim passei em nutrição. Dessa vez fiquei feliz por finalmente dar um passo a frente e começar um novo caminho. Não teria mais que sentir vergonha por dizer que não estava estudando. "Mas espera, nutrição?" -pensei comigo. Porque escolhi nutrição mesmo? Ah sim, porque assim aprenderia sobre os alimentos, melhoraria minha alimentação e conseguiria emagrecer. Me bateu aquela incerteza gigantesca de novo. Será que não estava escolhendo errado? Eu não posso entrar num curso pra emagrecer, pra isso eu preciso procurar um nutricionista, estava tudo errado. Sem falar que o medo de ter que morar sozinho e enfrentar tudo longe da família me pegou de novo. Cancelei a matrícula e voltei de cabeça baixa para casa.

 

Todos me chamaram de louco. Desistir de um curso em uma universidade federal? "Ah não, só você mesmo, vai ser burro assim lá adiante. Deus abre as portas e da oportunidade só para quem não merece". Era isso que escutava todas as vezes que contava a história. Eu estava desanimado, larguei o emprego e passava os dias na frente do computador. Sempre fui muito bom nessa área. O 'técnico' da família, sabe? Já tive sites, participei de fóruns como coordenador e tudo mais. Fiz um curso de webdesigner, mas foi decepcionante. Eu sabia mais que o professor, não me ajudou quase em nada.

 

Meus pais estavam incomodados com a minha situação. Minha mãe insistia para eu fazer concursos da Caixa, do Banco do Brasil, da prefeitura e eu apenas ignorava ou dava desculpas. Meu pai arrumou outro emprego para mim, em uma loja de materiais de construção. Minha função seria de atender no balcão e assim comecei. Eu era péssimo, não tinha o menor talento para a coisa e nem fui treinado para isso. Ficava correndo de um lado para o outro tentando saber o que eram os produtos, onde estavam e quais eram os preços. Eu não podia largar o emprego então sugeri que o meu patrão me mudasse de cargo. Ele me colocou no caixa e assim fiquei por 7 meses. Foi um período em que me abri mais para as pessoas, me tornei um pouco mais sociável. Mesmo assim, a insatisfação e sensação de estar no caminho errado me dominou. Eu só estava ali para agradar os meus pais. Pedi demissão e voltei a trabalhar nos negócios da família, afinal, não queria ficar sem dinheiro.

 

Eu nunca fui de baladas, curtição, bebidas ou outras drogas, sempre fui preso dentro de casa e assim continuei. Era do trabalho pra casa, da casa pro trabalho. Meu pai sofreu um enfarto e isso uniu mais a família. Tentei assumir a posição dele no trabalho para ajudá-lo um pouco mais e aliviá-lo de tanto stresse, já que isso estava afetando a saúde dele, mas fui "chutado". Ele não é do tipo que confia nas pessoas para fazer nada, tem que revisar tudo o que já está feito e criticar qualquer erro. Não fazia sentido eu ficar ali fazendo o trabalho dele para ele ir lá e refazer tudo. Deixei isso de lado e fui fazer outro serviço ali dentro.

 

Com o tempo vieram mais cobranças dos meus pais. Eles diziam que eu precisava voltar para a Igreja (que deixei de frequentar na época do término do namoro), que eu precisava tomar um rumo na vida, sair um pouco de casa, ter ambições. Minha mãe vive me comparando com meus ex-colegas dizendo que estou jogando minha vida no lixo. Saí do emprego e voltei a ficar só dentro de casa novamente.

 

Nessa época também comecei a lutar com o meu peso. Fechei a boca e perdi 23kg (ainda quero perder mais 17, mas um dia chego lá). Meu corpo está longe de ser como eu desejo, mas pelo menos já não me sinto como uma aberração que atrai olhares por onde passa. No meu antigo emprego até sofri preconceito por partes de clientes que me chamavam de gordinho, gordo, fortinho. Enfim, emagrecer um pouco me fez mais feliz.

 

Meu lazer se resumia em ir na casa da avó nos feriados e na casa das minhas primas no domingo. Dentro desse contexto conheci algumas amigas delas, por quem me senti atraído mas nunca tentei nada para não "estragar" a amizade de ninguém. Então estou sozinho há exatos 8 anos. Fiquei com uma menina aqui outra ali, mas nada muito sério e sempre as escondidas. Não fico com ninguém que esteja dentro do meu círculo social ou que conheça alguém da minha família. Me sinto melhor assim, porque não quero prender-me a ninguém e é mais fácil não se envolver tanto se você não vê tanto a pessoa. Fica só uma vez e pronto. Tenho feito muitos amigos pela internet e muitos deles são gays. Isso tem-me feito refletir sobre mim, sobre o fato de durante a vida toda também ter achado muitos homens bonitos e ter fantasias com eles. Nunca fiquei com homem nenhum, mas essa atração sempre existiu (escondida, claro).

 

 Nos últimos meses tenho conhecidos uns caras pela internet e me declarado como bissexual. Às vezes rolam umas conversas mais quentes e depois bate um certo arrependimento e sensação de estar fazendo uma coisa errada ou cometendo um pecado.

 A questão que tem-me incomodado muito é a seguinte. Será que o fato de não ter- me permitido sair mais, conhecer pessoas e ter tido experiências retardou a descoberta dessa atração também por homens? Ou será que aquele abuso sexual que por tantos anos nunca me incomodou despertou em mim essa atração por homens? Será que nunca vou seguir em frente e amadurecer de vez? Já tenho 25 anos, ainda sou virgem, não saio de casa, não tenho um emprego, não sei se além de mulheres também gosto de homens... Estou enlouquecendo. Preciso de ajuda:(

 

Caro T.,

 

Acho que está na idade de começar a viver a sua vida. Sair de casa, procurar um emprego e renovar seus projetos a despeito dos “traumas” do passado. Quanto à sua identidade sexual, é ir percebendo aos poucos e sentindo por onde está a ser dirigida a sua libido. Se não conseguir ultrapassar sozinho seus traumas, as suas dúvidas e inseguranças procure a ajuda de um psicólogo. O importante é estar motivado para tomar uma atitude de mudança e seguir em frente em direção ao crescimento saudável.

 

Confie em si e força total!

 

Trauma de infância

 

 

 

 

 

 

Olá... Vou definir oque acontece em meu casamento, meu marido tem um trauma de infância, pois viu sua mãe traindo seu pai em sua própria casa aos 13 anos, e não foi uma vez só e com isso ele acredita que todas mulheres são assim.

 

Já nos separamos uma vez por esta mesma situação, ele me ofende muito e eu não devo, oque devo fazer, temos dois filhos e nosso casamento irá acabar novamente por isso!!!

 

 

Cara leitora,

 

Quando o seu marido a ofende está a usar uma comunicação agressiva que só prejudica a relação e não constrói nada.

Se ele tem um trauma de infância, provavelmente não tem intensão de a ofender mas reage ao trauma dessa forma por incompetência em perceber a sua dificuldade.

 

Procure chamar-lhe a atenção em relação a esta situação.

 

Sempre que se sentir ofendida, fale com ele sobre o seu descontentamento com esse tipo de atitude e que gostaria que ele a valorizasse pelo que é e não pelos traumas do passado.

Diga ao seu marido que não gosta desse tipo de linguagem e que preferia que ele mostrasse o seu desagrado sem humilhações.

 

Com paciência, dedicação vai conseguir melhorar o seu casamento e se existe amor não vai ser o caso de acabar.